segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dedo mindinho do pé


Tem um bebê lá dentro. Boca, nariz, olhos e dedo mindinho do pé. Uma barriga dentro de outra. Unhas, pêlos, saliva e pintinho. Tudo isso me parece tão extraordinariamente humano e milagroso que eu passei os últimos dias pensando em bebês na barriga.
Ele fica submergido até nascer. E seja lá qual for a anatomia dos bebês, ele precisa daquela água. Assim como o seu coração batendo precisa daquele outro coração que bate por dois.

O pior é que disso tudo eu já sabia, mas só passou a fazer sentido pra mim quando eu senti o Miguel mexer. Porque apesar de todos os avanços, nós humanos ainda somos incapazes de compreender sem sentir. De acreditar sem ver. Há uma necessidade do que é concreto que, nesse universo dos bebês, tão maravilhosamente dependente, parece absurdo falar da vida materialista e individual que levamos. E ainda há aqueles que insistem em dizer que eles vem do outro mundo. Outro mundo é pra onde eles vão e passarão o resto da vida.


Coloca a mão pra cima e... átomos passeando pelos seus dedos. Eles te mantém de pé e coração batendo. Mas ninguém vê.

domingo, 18 de abril de 2010

Obs

Desenhar meu mundo utópico. Tentativa de materialização.
Inútil. Não escapei de contradições.
Tarefa difícil essa de ser Deus.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pra acabar com o assunto

Não pense que o mundo acaba
Ali onde a vista alcança
Quem não ouve a melodia
Acha maluco quem dança
Se você já me explicou
Agora muda de assunto
Hoje eu sei que mudar dói
Mas não mudar dói muito.
(Oswaldo Montenegro)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre esperas

Ela desistiu de esperar. Percebeu que não são dos seus desejos que os fatos se constroem. Há uma linha óbvia a seguir, mas ela nunca foi do tipo de pessoa adepta a obviedades. Sempre preferiu a adrenalina dos caminhos misteriosos. E se acostumou a esperar desses caminhos o contrário dos atalhos, sempre tão monótonos, objetivos e cheios de nada.

Ligava a trilha sonora e caminhava lentamente. Sentia sede de descobertas, borboletas no estômago e amores. Procurava em passos, histórias e vozes um escape pra debruçar-se. E abraçar as quimeras. E lembrar delas com a impressão utópica que tem só quem se apaixona. Porque ela escolheu a inocência suicida em nome dessa bobagem que é se apaixonar.

O que ela quer é obsoleto demais pra um mundo tão moderno onde o que não é fast-food é inadaptável.

Ela quer a breguice que é falar de amor, pensar em amor e querer amor. Quer estar transbordante, mas não ter nada a dizer. Quer o silencio que não incomoda e acomoda corações atletas e agoniados. Ela quer música que lembra. Sussurro que arrepia. Pernas que não ficam mais em pé. Quer a empolgação fútil. Olhos nos olhos, coração na boca e alma querendo dançar.
Ela quer dar sua metade e se sentir completa. Quer respirar tranqüila e inquieta, com todas as antíteses que explodem no peito.


Mas olha só, ela cansou de esperar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Acordei e... acordei de novo.




São 7:00 da manhã e eu acordo com disposição pra levar um caminhão.
Não despertei durante a noite pra fazer xixi e hoje sonhei que flutuava pelo mundo sem direção. O sol é forte, mas faz frio suficiente pra passar o dia de pijama e meias, que virou a nova moda da estação, apesar de estarem todos pouco se lixando pra isso.
Minha mesa amanhece posta com uma infinidade de pães de queijo, kiwi, chocolate, e massa de bolo, que agora posso comer tranquilamente porque meu organismo adquiriu um metabolismo que transforma gordura em água. Na minha porta, presente do Jude Law: todos os filmes do mundo em tamanho compacto.
Vejo minha cama se arrumar com o movimento do vento. As louças sujas viraram estrelinhas e hoje eu tenho todo tempo do mundo. No jornal, as notícias: Física abolida do sistema escolar, ricos dividindo suas casas com os pobres e políticos corruptos agora lavam o chão da rua. Uma nova pangéia deixa o Rio ilhado a Recife, França e Nova Zelândia e os maus humorados migram para o oriente. Los hermanos voltou e Jeff Buckley não morreu.

Vou para o ballet com o meu pé que continua lindo.
Ouço Chet Baker enquanto recebo abraços do homem que eu quero e que me ama.
Na minha gaveta, passagens para qualquer lugar do mundo.
Os chatos não me suportam mais e querem manter distancia de mim.
Na minha rua, um parque de diversão, uma livraria com café, uma praia deserta, uma montanha e Recife lá na próxima esquina.
Vejo sorrisos de criança quando fecho os olhos e meus sentimentos são traduzidos em música, feito trilha sonora de filme.
A lua ficou maior e dura agora mais tempo, além de ter estacionado na minha janela.
Consigo desligar os ouvidos e durmo quando penso em dormir.

São 7:00 da manhã e a vida real me dá bom dia.

sábado, 6 de março de 2010

Encolhendo.


Examinei o abstrato. Raciocinei as batidas de dentro. Matematizei o equilíbrio.
Finquei meus pés no chão. Vi a lua e fechei os olhos, sem devaneios dessa vez.
Andei pelo caminho mais feio. Evitei músicas, poesias, flores, azuis.
Quis achar tudo uma bobagem e treinei o ceticismo.
Me entupi de Freud, Descartes, e a lógica da metafísica.
Achei respostas para tudo.

E a falta de lógica era eu querendo fugir de mim.