domingo, 17 de outubro de 2010

Entrega


Andando pelas tuas ruas, te sinto meu. E com tal sina, me entrego: meus lábios gostam do gosto amargo que é te pertencer.
Beijo tuas esquinas, ponta a ponta. Acarinho tua história e cuido de tuas feridas. Cuidar de feridas seria assim uma prova de amor?
Em troca, quero ouvir tua voz, vinda de que forma for. Grite, cante, me declame uma poesia.
És um amor dos mais inconvenientes. Roubas meu fôlego, brincas com minha tranqüilidade e grudas em minha pele. Tua lama suja não me faz te querer menos.
Cafajeste, diriam os insolentes. Eu diria confuso.
Meu confuso Recife.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

23:37

Agora sim já podes soltar os teus cabelos.
Repara só no que hoje eu li: tudo é apenas uma questão de tempo.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Entre passos e tropeços

O sono faz pesar os olhos, que parecem procurar o tempo inteiro. As curvas andam me interessando muito, mas quando se tem um objetivo, elas só fazem atrasar. Pensei em não pensar nas curvas. Pensei numa objetividade que me desconfortaria os ombros, mas aceleraria os passos. Desisti. Pensei somente em passos. Mais precisamente nos teus. Nos nossos. Me lembrei que costumo andar em diagonal e que geralmente provoco tropeços. Nunca os desejei tanto. Quando eu te achar vou te fazer tropeçar algumas vezes, sim?       

Quando eu te achar não vou acreditar e vou pensar que ainda não achei. Quando eu te achar vou perder as chaves e a cabeça em todas as esquinas. Vou esquecer a parte do dia sem você pra o dia parecer melhor. Vou dar banana pra tristeza e comprar um livro de receitas mas não vou abrir porque eu te achei, então receitas e todo o resto das coisas vão me parecer menos importante do que me encher de você. Quando eu te achar vou pensar que toda música foi feita pra gente. Mas só porque nos achamos e os que se acham costumam pensar num mundo ao redor de duas almas. Poderão até existir almas achadas como as nossas, mas a gente não vai pensar nessa possibilidade. Mas que bobagem! Seremos um pouco tolos, entende? Tolos como esse texto. Mas é que só pensar em te achar faz meus olhos pesarem menos.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Seja


Que não queira falar comigo, mas não me deixe falando sozinha.
Odeie, mas não faça de mim um caderno em branco.
Seja arrogante, antipático, egoísta, mas por favor, não deixe de ser.
Pense em não me querer, mas não me queira simplesmente bem.
Corte minhas asas, mas não me faça voar baixo.


Sem migalhas.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Leve


Imperativos dão um tom de sabedoria à fala. Sabedoria impõe certa responsabilidade. E responsabilidade me pesa os ombros. Conclui.
Estado: Sendo leve. Como as asas desses passarinhos que vivem na cidade e ninguém percebe.

domingo, 27 de junho de 2010

"Soluço mental"

Mentes no menu automático enquanto roupas etiquetadas são penduradas como um troféu de consolo. Tenho pena.
Repetições de maiorias entregues à bandeja facilitam e brindam a uniformização cultural lucrativa. Tenho pena.

Pensei.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Olha só


- Moço, me vê o coração mais bonito, por favor.
- Quantos gramas?
- Inteiro.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pra decretar.


Ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim,
Dispenso a previsão.



Ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser,
Aceito a condição.




   [Los Hermanos - O velho e o moço]

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprumar

A muralha cansou de ser muralha. Logo ela, que parecia tão satisfatoriamente fixada. Virou monumento histórico. Tão lindo e emocionante seus muros atingídos pelos socos do tempo, que no seu caso passou acelerado. Uns tijolos caídos, a cor desbotada, e toda a poesia de uma história de batalhas escondia um silencio até então contemplativo. Ela nunca deixou de ser muralha e sequer almejou destino diferente. Com uma sutil resignação de se ser o que é, acostumou-se.
Mas dia desses percebeu o horizonte e foi despertada:

- O que tem atrás do mar?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Imenso

Não consigo dormir e viro a cabeça. Abro os olhos e leio a página marcada do livro que nunca saiu dalí. Está escuro, então meus olhos se fecham. E penso que quero mesmo é mergulhar nesses livros que parecem que nos lêem. Acariciar de leve suas páginas e minhas angustias. Ou, numa segunda opção, quero querer menos. Mudar o compasso dessa vida retalhada. Viver de alternativas concretas.
Poesias só servem pra embelezar a vida com aquilo que a vida não tem. Mas ninguém avisou que beleza não se inventa. E eu aqui, cada dia mais feia arrumadinha.

sábado, 8 de maio de 2010

Bem simples


assim.

sábado, 1 de maio de 2010

“A gente ficou lá na janela...

E nem precisamos falar mais nada."

(Mariana Machado)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dedo mindinho do pé


Tem um bebê lá dentro. Boca, nariz, olhos e dedo mindinho do pé. Uma barriga dentro de outra. Unhas, pêlos, saliva e pintinho. Tudo isso me parece tão extraordinariamente humano e milagroso que eu passei os últimos dias pensando em bebês na barriga.
Ele fica submergido até nascer. E seja lá qual for a anatomia dos bebês, ele precisa daquela água. Assim como o seu coração batendo precisa daquele outro coração que bate por dois.

O pior é que disso tudo eu já sabia, mas só passou a fazer sentido pra mim quando eu senti o Miguel mexer. Porque apesar de todos os avanços, nós humanos ainda somos incapazes de compreender sem sentir. De acreditar sem ver. Há uma necessidade do que é concreto que, nesse universo dos bebês, tão maravilhosamente dependente, parece absurdo falar da vida materialista e individual que levamos. E ainda há aqueles que insistem em dizer que eles vem do outro mundo. Outro mundo é pra onde eles vão e passarão o resto da vida.


Coloca a mão pra cima e... átomos passeando pelos seus dedos. Eles te mantém de pé e coração batendo. Mas ninguém vê.

domingo, 18 de abril de 2010

Obs

Desenhar meu mundo utópico. Tentativa de materialização.
Inútil. Não escapei de contradições.
Tarefa difícil essa de ser Deus.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Pra acabar com o assunto

Não pense que o mundo acaba
Ali onde a vista alcança
Quem não ouve a melodia
Acha maluco quem dança
Se você já me explicou
Agora muda de assunto
Hoje eu sei que mudar dói
Mas não mudar dói muito.
(Oswaldo Montenegro)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sobre esperas

Ela desistiu de esperar. Percebeu que não são dos seus desejos que os fatos se constroem. Há uma linha óbvia a seguir, mas ela nunca foi do tipo de pessoa adepta a obviedades. Sempre preferiu a adrenalina dos caminhos misteriosos. E se acostumou a esperar desses caminhos o contrário dos atalhos, sempre tão monótonos, objetivos e cheios de nada.

Ligava a trilha sonora e caminhava lentamente. Sentia sede de descobertas, borboletas no estômago e amores. Procurava em passos, histórias e vozes um escape pra debruçar-se. E abraçar as quimeras. E lembrar delas com a impressão utópica que tem só quem se apaixona. Porque ela escolheu a inocência suicida em nome dessa bobagem que é se apaixonar.

O que ela quer é obsoleto demais pra um mundo tão moderno onde o que não é fast-food é inadaptável.

Ela quer a breguice que é falar de amor, pensar em amor e querer amor. Quer estar transbordante, mas não ter nada a dizer. Quer o silencio que não incomoda e acomoda corações atletas e agoniados. Ela quer música que lembra. Sussurro que arrepia. Pernas que não ficam mais em pé. Quer a empolgação fútil. Olhos nos olhos, coração na boca e alma querendo dançar.
Ela quer dar sua metade e se sentir completa. Quer respirar tranqüila e inquieta, com todas as antíteses que explodem no peito.


Mas olha só, ela cansou de esperar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Acordei e... acordei de novo.




São 7:00 da manhã e eu acordo com disposição pra levar um caminhão.
Não despertei durante a noite pra fazer xixi e hoje sonhei que flutuava pelo mundo sem direção. O sol é forte, mas faz frio suficiente pra passar o dia de pijama e meias, que virou a nova moda da estação, apesar de estarem todos pouco se lixando pra isso.
Minha mesa amanhece posta com uma infinidade de pães de queijo, kiwi, chocolate, e massa de bolo, que agora posso comer tranquilamente porque meu organismo adquiriu um metabolismo que transforma gordura em água. Na minha porta, presente do Jude Law: todos os filmes do mundo em tamanho compacto.
Vejo minha cama se arrumar com o movimento do vento. As louças sujas viraram estrelinhas e hoje eu tenho todo tempo do mundo. No jornal, as notícias: Física abolida do sistema escolar, ricos dividindo suas casas com os pobres e políticos corruptos agora lavam o chão da rua. Uma nova pangéia deixa o Rio ilhado a Recife, França e Nova Zelândia e os maus humorados migram para o oriente. Los hermanos voltou e Jeff Buckley não morreu.

Vou para o ballet com o meu pé que continua lindo.
Ouço Chet Baker enquanto recebo abraços do homem que eu quero e que me ama.
Na minha gaveta, passagens para qualquer lugar do mundo.
Os chatos não me suportam mais e querem manter distancia de mim.
Na minha rua, um parque de diversão, uma livraria com café, uma praia deserta, uma montanha e Recife lá na próxima esquina.
Vejo sorrisos de criança quando fecho os olhos e meus sentimentos são traduzidos em música, feito trilha sonora de filme.
A lua ficou maior e dura agora mais tempo, além de ter estacionado na minha janela.
Consigo desligar os ouvidos e durmo quando penso em dormir.

São 7:00 da manhã e a vida real me dá bom dia.

sábado, 6 de março de 2010

Encolhendo.


Examinei o abstrato. Raciocinei as batidas de dentro. Matematizei o equilíbrio.
Finquei meus pés no chão. Vi a lua e fechei os olhos, sem devaneios dessa vez.
Andei pelo caminho mais feio. Evitei músicas, poesias, flores, azuis.
Quis achar tudo uma bobagem e treinei o ceticismo.
Me entupi de Freud, Descartes, e a lógica da metafísica.
Achei respostas para tudo.

E a falta de lógica era eu querendo fugir de mim.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Para ela, minha mãe.




If you need me, call me
no matter where you are
no matter how far
just call my name
I'll be there in a hurry
you don't have to worry.

My love is alive
Way down in my heart
Although we are miles apart

´cause ain't no mountain high enough, for us.


Parece até encomendado pra nós, mãe. E é inevitável a pontada no coração quando me dou conta que não tenho mais teus batons emprestados, e nem tenho você aqui pra me puxar e dançar Bee Gees.
Você nem tá vendo, mas o espelho me diz que estou cada dia mais parecida contigo. E eu sorrio de tanta empolgação de te querer me mostrar. Aquele Christini que nos mantém tão unidas me dá bom dia junto com a realidade de te ter tão longe.
Eu sei, a gente vai levando como pode. Não, convenhamos, a gente não sabe levar coisa nenhuma. A danada da distância não veio com manual de instrução e administrá-la tem nos tomado o fôlego.

Mas pra consolar, eu canto que não tem montanha suficiente. Realmente a música parece ter sido encomendada pra nós. Mas o que esqueceram de acrescentar mesmo é que eu era feliz e não sabia.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Desengonçar

Corda bamba nunca foi minha brincadeira preferida, mas a vida ensina e a gente vai levando como dá. A vida ensina e a gente segue não entendendo os deveres de casa quase que insuportáveis, sem direito a consulta a qualquer coisa que explique a equação do x que parece infinita. A vida ensina e que droga de professora rude, má, cruel. A vida ensina e engana a gente. Mas você odeia ser enganado e se joga no chão. E berra por dentro. Berra sossegadamente com o grito que implora por não ser ouvido, porque não convém. A vida ensina e eu quebro a pontinha do lápis. Olha lá, ela tá fazendo careta pra mim, tá vendo? Tá vendo? Ninguém vê, porque só tem a vida, eu e meu lápis quebrado. A vida ensina e eu só quero mesmo é... não, chegar em casa não. Eu só quero mesmo é a árvore do meu condomínio. Aquela que às cinco proporciona a sombra que se encaixa perfeitamente com o pôr-do-sol que me faz sorrir de tão lindo e me ilude por alguns segundos, porque final emocionante de filme termina com pôr-do-sol, sombra e sorrisos.

Mas eu tô além do charme da dor. Além de poesias tristes que uns malucos inventam por ai, tirando da tristeza a arte que eu realmente não entendo. A vida ensina e eu queria parecer menos louca, ainda que eu seja. A droga da vida ensina e é daquele tipo de professora que te coloca chapeuzinho de burro e ri. Ri de como você bambeia lindamente. Ri de como eles transformam sua tragédia em formosura, em coisa bonita de se ver. E quando o tempo acabou e você está livre do castigo a vida te convida a outro banquete de degustação amarga, como as lágrimas amargas que você não ousa derramar. Te coloca de pé, ainda que você esteja exausta, mas a vida ensina e foi pra isso que ela nasceu.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O que eu quero.


Mais tempo no meu relógio.
Menos relógio no meu tempo.
E que de vez em quando ele passe devagarzinho.

caderno azul; ultima anotação.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Coisas.


Você talvez nem tenha percebido, mas acho que eu bem perdi o foco.
Você talvez nem tenha reparado, mas meus olhos queriam muito te dizer umas coisas. Coisas que nem sei o quê nem pra quê.Coisas que, de tão minhas, eu guardei como quem egoistamente aprisiona um filho, intencionando proteção.

Repara só nos meus olhos, eles meio que querem te falar de mim. Do que dói, do que alegra, do que assusta, do que conforta. Eles te vêem como terreno seguro e de alguma forma, querem te mostrar minha esperança. Até hoje foi ela a responsável por cada passo dado.
Eles querem te encher tanto de mim que é melhor eu me agüentar. Nunca me achei nada vazia. Um pouco intensa, até.

Você talvez nem tenha reparado, mas meus olhos queriam muito
te dizer umas coisas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

She may not be what she may seem inside her shell. She who always seems so happy in a crowd, whose eyes can be so private and so proud, no one's allowed to see them when they cry.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bom dia, Deus.



Férias foram sempre um furacão em minha vida. Sobra de tempo nunca foi minha aliada passível. O armário tá uma bagunça, o e-mail lotado, aniversariantes sendo esquecidos e eu como vestibulandos em dia de prova ando mesmo é querendo respostas.
Vai Deus, dá uma forcinha ai. Adianta sei lá... uns 5 anos pra não dar muito trabalho.

Ok, tô pedindo demais. Quer saber? Esquece. Deixa a vida seguir seu rumo natural, vou me virar. Faz que nem quando a gente solta uma criança e se delicia no seu jeitinho desengonçado de andar.
É a arte do quase lá.
A delícia do inacabado.
O mistério que enquanto mistério parece até mais interessante que a própria coisa em si.

OBS: Descobri uma utilidade da geometria na minha vida: um grau a mais muda completamente a direção de uma reta. 
Quero fazer tudo certinho. Quero fazer tudo certinho.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Só pra constar.


E agora? Voa coraçãozinho, voa.
Mas não muito longe, fica perto.
Cuidado, essas curvas são tão brutas.
Entendo teus devaneios, teus deslizes.
Não se pode esperar muita lógica de ti, afinal.
Juntou os cacos? Muito bem, assim que se faz.
Vai, coraçãozinho, vai.
Você tá livre de novo.