domingo, 6 de novembro de 2011

Relógio

Reparei na lua e... subitamente desviei os olhos. Melhor não, pensei.
Preferi o relógio e o indubitável. 23:13 e nenhuma objeção. Quem procuraria incessantemente pela veracidade do inquestionável movimento por segundo do ponteiro do meu relógio? Nem o mais insensato dos loucos. O meu relógio nunca me desaponta. Nenhum desengano causado por esse maquinismo indicador do tempo. Só solução. Precisa e sucinta. Que horas são? Aqui, querida dona, tenho o que você precisa. Mais do que tua meditação, mais do que o livro do filósofo que prometeram você adorar, mais do que música na frente do mar, mais do que qualquer desabafo com teus amigos. Eu tenho respostas. E é só disso que você precisa. São 23:36.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Descalços

Sob a sola dos pés estão meus desejos efêmeros,
alígeros.
Tudo aquilo que na mesma avidez fez o suicida,
faz o sopro lépido de proeza e vida.
E não ficando amo a liberdade,
vento sem norte. (e sem rima)

- Não se ofenda, liberdade. Mas seria possível encontrar um par de pés descalços? 

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A alma, João

é isto que te pede por solidão.


e o corpo,
é só aquilo que se entristece.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O verão lá fora

Ele tem uma mania de dormir bonito. Não ronca nem sequer babinha escorrendo da boca. Pra provar que é de verdade, permite uma remela no canto do olho. Mas ainda mais ou menos acorda e te puxa pra perto, fazendo-te reparar que um braço nunca substituiu tão bem um travesseiro.
E é a beleza da remela no canto do olho que te faz adorar a idéia de desistir do verão lá fora. De calor o seu hálito basta.
Enquanto ele escova o dente, você dá um passo pra trás e imagina que aquelas costas deveriam estar escondidas num lugar do seu quarto pra você tirar de vez em quando. Então você pensa nos olhos, coxa, braço e já não tem mais espaço pra tantos pedaços. Mas você tem ele inteirinho e aceita, por que não?

Porque você conseguiu substituir um braço.
E ele, de costas, indo embora, não te incomoda mais.


Agora quem te acorda é o sol do verão lá fora...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sem borracha.


São 7:50 da manhã de uma quarta-feira de cinzas. Não estou cansada nem de ressaca como 90% da população festiva brasileira e definitivamente não preciso dormir. Não quero dormir, e droga, acabei de ver “Juntos por acaso” duas vezes seguidas e isso me parece muito solitário. Tenho 12 ligações pra retornar - desde provavelmente segunda - de pessoas animadas que prometeram me divertir nesse carnaval. Decidi não atender nenhuma, e minhas janelinhas do msn piscam e reclamam que eu não respondo. Também decidi não responder. A mesa tá uma bagunça, estuo usando a mesma caneca pra tomar sorvete desde ontem, não lavo meu cabelo há quatro dias. Certas pessoas me chamariam de porca, eu fingiria que isso muito me incomoda, mas quer saber? Tomaria sorvete nessa caneca por um mês, junto com meu cabelo sujo e oleoso que isso vai continuar não me importando. Toalhas na cama, calcinha esquecida no banheiro e não dei descarga porque faço xixi muitas vezes de madrugada. Minhas unhas, pra variar, roídas e devo ter germes, é o que dizem. Mas hoje perfeitamente eu sairia assim: sandália, cabelo preso despretensiosamente e cintura perdida no espaço grande de uma camisa confortável. Mas que tipo de mulher seria eu? Onde estão suas unhas grandes e vemelhas, sua bunda e silhueta apertadas num vestidinho, seu brinco grande, o batom? E a espera? Aonde ela está? Porque mulheres vivem numa sala de espera. Horas sentadas naquela ânsia do olhar, do comentário, da passarela. Não, eu não ousaria sair de casa assim. Desonraria a raça da submissão. A raça do frágil ser, que se esparrama nas ruas implorando 'por favor, me repare. Por favor, seja seduzido, me queira, eu preciso disso. Posso ser um pouquinho tola, mas você pelo menos me acha bonita? Você vai me amar? Vai cuidar das minhas incertezas e inseguranças? Olha, sou um bichinho reprimido na palma de suas mãos. Veja só quanta coisa eu fiz pra você me tirar dessa solidão que é não ter nada além de um corpo interessante. Se você me amar, vou ter um corpo interessante e um amor. E vou pensar que você me ama e isso vai me consumir tanto que enfim, vou me sentir mulher. '
E eu, quase um menino, só queria mesmo era poder sair por ai com minha roupa confortável e mandar o cara que não me reparou se danar. Porque eu desprezo do fundo da minha alma mulheres que vivem em função disso.
E se eu não quiser descer até o chão, ainda vou ser mulher? Se meu corpo não for um outdoor ambulante movido a olhares, também? 
Essa mulher quase menino continua assistindo filminho água com açucar e perde o sono por pensar tanto em como a vida seria com os finais felizes. É insegura e tem seus medos, vai precisar que a peguem no colo, que reparem na sua cintura, que percebam que sim, ela é frágil e quer que a ame, mas que deixe-a também ser. Ser além de uma bunda, de um rosto bonito e do próprio prazer. Ser isso que se é quando se descobre o que não foi reparado. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Hoje eu decidi não me arrepender.


Você casou com o cara errado. Dez anos insistindo numa relação que simplesmente não se encaixa, mesmo tendo se desdobrado tanto. Desse relacionamento tortuoso, dois lindos filhos e uma reinvidicação na justiça por pensões atrasadas e incompletas.

Lembra-se da festa lá em meados nos anos 90 quando ele te chamou pra dançar e você se encantou com a suavidade das mãos na sua cintura? Ele sequer a conhecia, mas entre uma música e outra sussurrou no seu ouvido que não iria te deixar escapar. Ousadia que a fez tremer as pernas e sentir o coração gritar.  
Na semana seguinte planejavam casa com cerquinha branca, decidiram juntar as escovas de dente e a estrada. Arrebatador, intenso e inconseqüente. Você nunca se sentiu tão viva.

Hoje eu decidi não me arrepender. O que hoje posso chamar de meu, é fruto de pequenas intervenções de diferentes pessoas e momentos. Amigos que hoje parecem tão distantes foram testemunha daqueles tipos de felicidades momentâneas que tanto fazem parte da vida. Amores com quem tantas vezes me fiz em pedaços pra sentir a sensação doce de juntá-los e que tanto fizeram desse meu coração um atleta.

A vocês, o meu álbum de fotos, a minha lembrança, meus momentos de nostalgia e principalmente, o meu não arrepender-se.