quarta-feira, 9 de março de 2011

Sem borracha.


São 7:50 da manhã de uma quarta-feira de cinzas. Não estou cansada nem de ressaca como 90% da população festiva brasileira e definitivamente não preciso dormir. Não quero dormir, e droga, acabei de ver “Juntos por acaso” duas vezes seguidas e isso me parece muito solitário. Tenho 12 ligações pra retornar - desde provavelmente segunda - de pessoas animadas que prometeram me divertir nesse carnaval. Decidi não atender nenhuma, e minhas janelinhas do msn piscam e reclamam que eu não respondo. Também decidi não responder. A mesa tá uma bagunça, estuo usando a mesma caneca pra tomar sorvete desde ontem, não lavo meu cabelo há quatro dias. Certas pessoas me chamariam de porca, eu fingiria que isso muito me incomoda, mas quer saber? Tomaria sorvete nessa caneca por um mês, junto com meu cabelo sujo e oleoso que isso vai continuar não me importando. Toalhas na cama, calcinha esquecida no banheiro e não dei descarga porque faço xixi muitas vezes de madrugada. Minhas unhas, pra variar, roídas e devo ter germes, é o que dizem. Mas hoje perfeitamente eu sairia assim: sandália, cabelo preso despretensiosamente e cintura perdida no espaço grande de uma camisa confortável. Mas que tipo de mulher seria eu? Onde estão suas unhas grandes e vemelhas, sua bunda e silhueta apertadas num vestidinho, seu brinco grande, o batom? E a espera? Aonde ela está? Porque mulheres vivem numa sala de espera. Horas sentadas naquela ânsia do olhar, do comentário, da passarela. Não, eu não ousaria sair de casa assim. Desonraria a raça da submissão. A raça do frágil ser, que se esparrama nas ruas implorando 'por favor, me repare. Por favor, seja seduzido, me queira, eu preciso disso. Posso ser um pouquinho tola, mas você pelo menos me acha bonita? Você vai me amar? Vai cuidar das minhas incertezas e inseguranças? Olha, sou um bichinho reprimido na palma de suas mãos. Veja só quanta coisa eu fiz pra você me tirar dessa solidão que é não ter nada além de um corpo interessante. Se você me amar, vou ter um corpo interessante e um amor. E vou pensar que você me ama e isso vai me consumir tanto que enfim, vou me sentir mulher. '
E eu, quase um menino, só queria mesmo era poder sair por ai com minha roupa confortável e mandar o cara que não me reparou se danar. Porque eu desprezo do fundo da minha alma mulheres que vivem em função disso.
E se eu não quiser descer até o chão, ainda vou ser mulher? Se meu corpo não for um outdoor ambulante movido a olhares, também? 
Essa mulher quase menino continua assistindo filminho água com açucar e perde o sono por pensar tanto em como a vida seria com os finais felizes. É insegura e tem seus medos, vai precisar que a peguem no colo, que reparem na sua cintura, que percebam que sim, ela é frágil e quer que a ame, mas que deixe-a também ser. Ser além de uma bunda, de um rosto bonito e do próprio prazer. Ser isso que se é quando se descobre o que não foi reparado.