segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Seja


Que não queira falar comigo, mas não me deixe falando sozinha.
Odeie, mas não faça de mim um caderno em branco.
Seja arrogante, antipático, egoísta, mas por favor, não deixe de ser.
Pense em não me querer, mas não me queira simplesmente bem.
Corte minhas asas, mas não me faça voar baixo.


Sem migalhas.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Leve


Imperativos dão um tom de sabedoria à fala. Sabedoria impõe certa responsabilidade. E responsabilidade me pesa os ombros. Conclui.
Estado: Sendo leve. Como as asas desses passarinhos que vivem na cidade e ninguém percebe.

domingo, 27 de junho de 2010

"Soluço mental"

Mentes no menu automático enquanto roupas etiquetadas são penduradas como um troféu de consolo. Tenho pena.
Repetições de maiorias entregues à bandeja facilitam e brindam a uniformização cultural lucrativa. Tenho pena.

Pensei.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Olha só


- Moço, me vê o coração mais bonito, por favor.
- Quantos gramas?
- Inteiro.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pra decretar.


Ora, se não sou eu quem mais vai decidir o que é bom pra mim,
Dispenso a previsão.



Ah, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser,
Aceito a condição.




   [Los Hermanos - O velho e o moço]

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprumar

A muralha cansou de ser muralha. Logo ela, que parecia tão satisfatoriamente fixada. Virou monumento histórico. Tão lindo e emocionante seus muros atingídos pelos socos do tempo, que no seu caso passou acelerado. Uns tijolos caídos, a cor desbotada, e toda a poesia de uma história de batalhas escondia um silencio até então contemplativo. Ela nunca deixou de ser muralha e sequer almejou destino diferente. Com uma sutil resignação de se ser o que é, acostumou-se.
Mas dia desses percebeu o horizonte e foi despertada:

- O que tem atrás do mar?